sexta-feira, maio 29, 2009

O Pequeno Príncipe



E ele vai caminhando pela rua, com seu passo bem comum. Bastante comum, como o todo que o é. Não é um trote lento, mas também nada muito acelerado e forçoso. Na verdade, caminhadas nunca foram o sua atividade predileta.

Lembrou-se naquela oportunidade dos tempos de outrora... Já fora quase um atleta. Era bem veloz nos 100 metros e com falsa modéstia, era imbatível. Chegou até mesmo ao ponto de esboçar uma vontade em jogar futebol. Por algum momento até pensou que era bom naquilo...

É que algumas das suas escolhas acabaram por dar destinações diferentes daquela que era observada . Entre o futebol e as corridas dos 100 metros, ele acabou correndo muito além dos 100 metros...Distanciou-se, muito.

Mas vamos voltar à caminhada pela área central da metrópole montanhosa. Ele sempre caminhava, caminha e pensa ao longo dessa idéia. Gosta de burlar o tempo parado numa banca de revistas, fumando um cigarro e dá uma espiada nas revistas, nos jornais do dia e algumas outras inutilidades e quando é acometido por algumas lembranças.

Estranhas, na verdade, sendo certo que nada tem a ver com o que era visto naquela hora. Não há lógica, apesar de se achar racional, é bastante ilógico também. Lembranças sempre o pegavam de surpresa, daquelas que se lembra uma vez só na vida e não se consegue entender o porquê daquilo ter ficado armazenado na sua mente por tanto tempo.

E lembrou-se daquela vez em que, no maternal, naquela escolinha no bairro, após chorar um pouco considerável entrou no estabelecimento de mãos dadas com alguma “tia” da escolinha. Era dia de natação, e estava devidamente carregando sua sunga estilizada e alegremente colorida. Em resumo, na ocasião, colocou seu traje de banho e curiosamente dispensou as bóias que se acoplavam aos braços.

Antes mesmo da “tia” ordenar que eles e os coleguinhas entrassem na piscina - grande a piscina para uma criança de menos de 1,30m de altura - , num gesto bem estranho e incomum de coragem virou para a “tia” e falou:

-Já posso entrar na água?
-Mas sem bóias? Você sabe nadar mesmo?
-Sim, claro que sei!
-Tem certeza mesmo?
-...Tchibummm!

Já havia pulado, com convicção e segurança. Pulou, afundou, desesperou-se e não conseguiu sequer tocar com os pés no chão. Por um instante percebeu que parecia não ter fundo. Pensou em algum milésimo de momento que morreria, ficou se debatendo na água até ser salvo por alguém, que não se recorda ao certo. Assustado, saiu da piscina e chorou. Não queria mais aquela brincadeira no dia...

Assim, mais uma vez o vento trouxe-lhe essa memória e traz outras também, da mesma época, do mesmo lugar...Como na hora da merenda, em que a sala era invadida por um cheiro próprio daquele momento, daquela época, daqueles anos... Um cheiro sem definição certa, mesclando o azedo do suco de laranja que ficava numa garrada térmica, o doce dos biscoitos recheados e quente como um pão de forma com presunto que ficou dentro da merendeira por longo tempo, junto com uma pequena toalha para forrar a mesa para o banquete.

Por vezes era realizado algum tipo de mercância, alimentos eram trocados, e tinham uma valia impressionante os pães de mel, chocolates e coisas doces...

É que esse cheiro teima em aparecer algumas vezes, e sempre quando o sentir será levado para aquele momento que ficou congelado no tempo. Talvez, naquela hora, seria até mesmo capaz de dizer algo para seus coleguinhas... Quem sabe falar com o Willian que levasse o pai que era mágico para nos fazer uma nova apresentação? Pois a anterior havia sido bacana demais! Ou mesmo virasse para a Isabela e dissesse o quanto a achava legal, enquanto brincavam no "parkim"?!

Quem sabe? Ele não sabe. Sabe apenas que se lembra com uma melancolia efervescente, com torpor, que depois se traduz em tristeza. Nietzsche e Freud explicam...

...E continua caminhando para o presente.