quarta-feira, maio 26, 2010

O último tango


- Quando eu disse que tinha ódio, não estava falando de você.
- Não?
- Não. Não tenho ódio de você.
- Não?
- Não. Por que teria?
- Diga-me você.
- Eu falo é da vida, de mim.


(silêncio)

- Somos tão engraçados, nós dois.
- Diferentes demais.
- Semelhantes demais, eu diria.
- Tão semelhantes que chegamos a ser diferentes.
- Todo mundo é igual.


(silêncio)

- Desculpe.
- Você sabe que não precisa.
- Não, eu...
- Você foi ótima, a culpa não é sua.
- Então obrigada.
- Pelo quê?
- Pelas músicas. Pela noite. Pelo papo.
- Qualquer um canta uma música. Qualquer um te faz companhia numa noite, não?
- Não.
- Bom saber.

(silêncio)

- Eu acho que é isso.
- Podemos ir embora?
- Podemos.
- Algo mais a acrescentar?
- Te vejo em outra vida, quando nós dois formos alguma outra coisa, talvez leão marinho.
- Te procuro em outros corpos, juro que um dia te encontro.

(silêncio)

- Não me espere pra jantar e nem para mais nada, eu não volto.
- Eu sei. Nunca mais, não é?
- Talvez em outra vida.
- Talvez em outra vida.

(silêncio ad eternum)

segunda-feira, maio 24, 2010

Aquele outono inacabado

- Eu preciso.
- De quê?
- De você.

(silêncio)

- Leu seu horóscopo hoje?
- Li. Capricórnio. Péssimo dia. E o seu?
- Peixes. Péssimo dia pra mim também. Para nós.
- Para eles. Para nós, não...

(silêncio)

- Agora eu preciso de um cigarro.
- Você precisa mesmo é de um pulmão novo.
- Você precisa de um amor novo.
- Não. Eu gosto dos antigos.

(silêncio)

- Tá frio aqui fora.
- Está quente demais lá dentro.
- Gosto dessa brisa. Do fim da tarde. Do cheiro salgado.
- ... do azul escurecendo no céu em contraste com o azul marinho.
- ... dos amores antigos. Gosto.

(silêncio)

- Quando vamos embora?
- Nós temos que ir embora?

(silêncio)

- Acho que perdemos o horário.
- E a esperança. Voltaremos pálidos para casa.
- E se ficarmos?
- E se ficarmos?

(silêncio)

- Olha pra mim?
- Olho pra você.
- Está me escutando?
- Estou te escutando.
- Eu... digo, nós. Nós temos que fazer alguma coisa.
- O quê?

- Ir para casa.

- Não. Nós estamos em casa.

(silêncio)

terça-feira, maio 11, 2010

Para todas as criancinhas

Coisa estranha a vida! - ou essa vida(?) Quanto mais crescemos e amadurecemos, mais temos vontade de ser criança... No acerto de contas, ficam as lembranças, os desejos doentios que passaram, as promessas de amor e ódio não cumpridas, os sonhos que já não serão mais realizados e nem idealizados, ou até aqueles que se transformaram em realidade e que nem damos tanto valor. Lembranças.

Quando fazemos aniversário sempre pensamos no passado, no que já fizemos e no que ainda falta pra fazer. Descomunal a imensidão disso na mente. Tanta coisa se foi e não volta mais. Tem coisas que eu realmente gostaria que voltassem, outras não.

Daí, a grande explicação com o desejo de voltar a ser criança, de lembrar das coisas daquela época e sentir uma sensação muito estranha entre o peito e a barriga. As crianças não tem lembranças de um passado remoto, e nós temos... O máximo que podem lembrar é o que comeram ontem, e em muitas vezes nem disso a gente consegue lembrar hoje. Elas contam com desejos que são sempre os maiores, inimagináveis e perfeitos; aqueles que nos recordamos quando mais velhos que tivemos vontade de saciar, mas não saciamos. Ou saciamos e não teve o mesmo gosto que teria naquele momento em que foi fomentado na nossa mente.

Daí a vontade de voltar e viver tudo de novo, ter uma nova chance. A verdade chocante é que nós não temos essa chance, por isso deveríamos viver tudo intensamente pra não se arrepender de ter vivido.

Que as lembranças sejam contínuas, agradáveis e que o futuro seja melhor do que elas. Que se viva a vida a ponto de não se arrepender, pois os aniversários vão e vem. E a gente continua, até certo ponto(...).

segunda-feira, maio 10, 2010

Conclusões Periódicas

E com o passar dos dias e vivendo cada vez mais ou, cada vez menos vou conseguindo chegar a algumas conclusões que antes não passavam pela minha mente. Nunca fui daquele tipo de que tem uma verdade invariável e inflexível, mesmo porque isso não existe. Podemos falar em algo que é usual e algo que não é usual, mas jamais tomar para si como uma verdade inconteste.

É assim para mim, tanto é que me dou ao luxo de poder mudar de opinião quando eu bem entender. Aprendi isso com algumas pessoas e com a vida. Ela, por mais inacreditável que pareça – Sim, quando você ouve isso nos tempos de criança – nos ensina muito. Claro, a seu tempo e modo. Não sei se é justo ou injusto, mas acontece.

E pensei e pude, de fato observar, que esse sentimento nosso de incompletude, de dissonância do meio social, de dificuldade em sociabilidade tem muito a ver com nós mesmos. Daí você pensa: Mas é obvio que sim! São coisas da nossa cabeça...

Não tão elementar o é. Numa linha de raciocínio e investigação em que sempre buscamos além do óbvio, podemos chegar à conclusões interessantes. Fato é, que em todo esse interregno e em todos esses momentos em que estive deslocado e inconformado com minhas situações, eu estava sempre acompanhado. Acompanhado de mim mesmo.

Não é que o ser humano seja completo por natureza, ma sempre que fui ao bar e não me senti pleno, sempre que fui jogar futebol e não me realizei, que fui a aula não aprendi, que fui feliz e não sabia, que procurei e não encontrei o agrado há algo em comum nisso tudo.

Mas é claro! É Ululante! É chocante! Eu estava todo esse tempo, apesar de estar com outras pessoas ao meu redor também, em todas essas infrutíferas tentativas, eu estava comigo mesmo! Eu fui a minha própria companhia nisso tudo.

Daí reflito: Será mesmo que eu sou uma boa companhia? Acho que não consigo sequer sê-lo para mim mesmo, quiçá para os demais.

Eu não sei.