quinta-feira, julho 29, 2010

O tempo, é a substância de que sou feito


Atravessando a rua em puro estado de estresse e ansiedade me veio na cabeça algumas ideias sobre a existência humana, e diga-se, a triste existência humana. Numa caminhada de menos de 100 metros num típico dia de trabalho pode envolver muita coisa na sua mente, tal como ocorreu hoje. Aliás, ocorre sempre a todo momento, momento fracionado.

Será que alguém pode entender o que é ter uma crise de ansiedade e pânico ao atravessar a rua com o o semáforo do homenzinho verde liberando sua passagem de pedestre e ficar com o olhar hipnótico para ele, com medo de não ficar vermelho da cor de sangue? Ao lado as motos já estão ensaiando a arrancada, nos carros, os motoristas já estão prontos para passar por cima. Foda-se.

Tecnicamente o fim de semana conta com 48 horas, as tradicionais horas do sábado e domingo. Temos de segunda à sexta 120 horas para ficarmos bem estressados com trabalho, cobrança, relacionamentos, pagamentos, deveres e condutas. Contudo, fiz um cálculo mais prático e sóbrio sobre isso. Vamos começar pelo fim de semana que na prática inicia-se às 19h da sexta feira, que é a hora em que chegamos em casa ou algum outro lugar que não esteja relacionado ao trabalho, certamente a mente leva algum tempo para se desligar do estresse (se é que se desliga por inteiro), mas já estamos por nossa conta. Okay. É válido.

Em diante temos todo o sábado para abstrair trabalho, claro, salvo as exceções de trabalhos extras que costumam surgir; daí caímos para o domingo, que podemos ter como nosso até às 19h, quando escutamos o gordo maldito encerrando o programa que dura a tarde toda e vemos o dia indo embora com um solene adeus, e com o dedo do meio em riste para nós. Depois, escutamos a vinheta do Fantástico com aquele tanto de coisa chata na programação já começa a depressão pré-segunda feira. Os assuntos e os fantasmas da semana voltam a nos assombrar, é necessário se preparar, arrumar as coisas, colocar ordem na agenda e lembrar dos compromissos árduos da semana, enfim, é a semana já começando com seu habitual peso em pleno FIM DE SEMANA!

E onde eu quero chegar com isso tudo? Simples. Pelas contas que eu fiz, nós passamos durante a semana suportando uma tensão braba, e temos em troca muito pouco tempo para aliviá-la. Não sei, mas a vida tem ficado difícil de ser vivida. Todo mundo sabe que tem um monte de lugar bonito para ir, um monte de coisa legal para fazer, mas onde arrumar esse tempo sendo que estamos totalmente presos às nossas obrigações? É muito pouco tempo para muita coisa a ser feita. Final das contas: 120 horas de estresse e muitas vezes trabalhando para o enriquecimento de terceiros, e 48 horas, dentre essas 48h, algumas delas mal aproveitadas em virtude das nefastas outras 120...

Tudo se comunga, nada se isola.

“Passei o dia fazendo um resumo do estado atual de minha fortuna pecuniária e cheguei à conclusão que possuo muito mais capital dinheiro do que capital tempo, e portanto é o último que merece particular atenção. (…) Ora, eu posso aumentar o dinheiro, mas, tempo, a única coisa que eu posso fazer é economizar (…). A questão é esta: o que se deve considerar como tempo perdido?” (José Vieira Couto de Magalhães, 1880)




sábado, julho 24, 2010

Espasmos Cadavéricos

"Nada mais é do que um caso particular de rigidez cadavérica, de instalação instantânea e ainda em vida, cuja principal característica é uma contractura que faz persistir, após a morte, a posição ou a atitude que a vítima apresentava no momento do óbito."

quarta-feira, julho 21, 2010

Vivendo no Abstrato


Eu preciso de dizer a verdade. É que nem sempre eu acreditei ou acredito que o homem (leia-se humanidade) precisa, de fato, acreditar em alguma coisa para não sentir que a vida é só isto. Uma verdade é que se a vida for/fosse só isto é uma merda. Quando morremos acabou, o sono é eterno. Se é eterno, não há o que sonhar e não motivo para sonhar, pois o melhor do sonho é acordar e poder pensar em realizá-lo. Essa deve ser a temática.

(...)

Com olhos desatentos depois dessas palavras ele diz para ela novamente.

-Olha para mim, essa é a minha imagem. Meus olhos desatentos nesse momento.Me sinto mais distante do mundo, talvez de mim...

-Não diz isso que eu acabo acreditando.

-Talvez, se você me visse de uma certa distância, uma maior, mas não ao ponto de me perder...

-(...)

-... Você poderia talvez me reconhecer.

-Você me espanta quando começa com esse assunto. Tem vezes penso que estou falando com uma pessoa sem início, meio e fim...

-Você me vê assim?

-Vejo que por vezes você tem expectativas altas demais para quem vive numa montanha russa.

-Não é assim, tudo me escapa. Pessoas, sabores, desejos e vontades. O que posso esperar mais?

-Olha, você ainda me têm... Por inteira.

-Tenho? Será que eu tenho condições de ter alguém? Brigo comigo mesmo, não convivo bem comigo mesmo.

-Eu estou do seu lado, eu estou ao seu lado.

(Depois, tudo que se podia ouvir era a voz séria do repórter de um jornal da TV , finalizando uma reportagem dizendo: "O perigo já passou, os técnicos já foram chamados, não há motivos para alarme.")