quarta-feira, novembro 09, 2011

Sempre atravessamos e nunca acontece nada, nada.



Voltando em grande estilo, com o mestre Charles Bukowski! E para eles eu digo:


Verdade, Fernando, na vida só conheci os demônios que pensei que nunca conheceria!



"Podia ver a estrada à minha frente. Eu era pobre e ficaria pobre. Mas eu não queria particularmente dinheiro. Eu sequer sabia o que desejava. Sim, eu sabia. Queria algum lugar para me esconder, um lugar em que ningupem tivesse que fazer nada. O pensamento de ser alguém na vida não apenas me apavorava mas também me deixava enjoado. Pensar em ser um advogado ou um professor ou um engenheiro, qualquer coisa desse tipo, parecia-me impossível. Casar, ter filhos, ficar preso a uma estrutura familiar. Ir e retornar de um local de trabalho todos os dias. Era impossível. Fazer coisas, coisas simples, participar de piqueniques em família, festas de natal, 4 de julho, Dia do Trabalho, Dia das Mães... Afinal, é para isso que nasce um homem, para enfrentar essas coisas até o dia de sua morte? Preferia ser um lavador de pratos, retornar para a silidão de um cubículo e beber até dormir."

terça-feira, agosto 02, 2011

Autocrítica



Depois de saber de alguns comentários sobre o blog, andei pensando e fazendo uma autocrítica sobre o conteúdo. Na verdade, isso tudo é parte de mim sim, mas também faz parte de uma espécie de alter-ego. É como se fosse alguém além de mim, que teima em existir em um campo paralelo.

A grande verdade é que todos esses textos são ruins, palavras com gosto amargo, frases com rancor e pensamentos saudosos e pessimistas. Entrelinhas não valem de nada, nada!

O que se tenta retratar é o meio termo que existe entre o colorido e o preto e branco. Palavras e pensamentos que caem de um céu em um temporal de sentidos. Uma estrada complexa e torta, de um motorista errante; ou mesmo, tão somente aquilo que merece ser dito uma vez que se pensa.

Penso agora que você não deveria estar aqui; eu não deveria estar aqui e nada disso deveria estar por aqui; isso se a vida fosse do jeito que imaginávamos quando éramos crianças.

É que todos os textos, nada são.

Eu sou ruim e você também é ruim.

Aproveitem os caminhos.

sexta-feira, julho 15, 2011

Os Funerais do Coelho Branco - Parte II


Sempre gostei dessa expressão que essa banda pós punk, que eu cruto, criou, dizendo sobre "Os funerais do coelho branco". O sentido disso tudo é quando nós tiramos aquela roupinha bonita, branca e felpuda de coelhinhos dóceis, para nos vestirmos do jeito que realmente somos. Não é a roupa física, mas a roupa da alma mesmo, algo de dentro para fora. E é engraçado ver esse processo todo acontecendo e fazer comparações quando ele chega ao fim. Para tanto, resolvi postar a letra dessa música integralmente, pois adorei essa odisséia da degradação, e todo o produto final, que é NADA. "Atravesso a estrada, e nunca acontece, nada... Nada."

Os Funerais do Coelho Branco II
Dance of Days

Sartre da São João, hálito de bebida barata
e meio Vila Rica amassado no bolso.
Devorador de memórias de prostitutas e arruinados,
o doce prazer dos últimos trocados.
Hoje escreverei o livro de toda minha vida,
e trocarei os manuscritos por beijos e carinhos pagos.
Foi tudo um engano.
Um enorme engano do acaso.
E acabei aqui, vencedor mais derrotado, de troféu entre os braços,
sem ninguém pra me chamar de herói.
Velando meus coelhos brancos.
(...)
As pessoas não ficam, sempre passam,
evitam contato com o homem e seus desencantos.
E eu assisto tudo, como um filme de quinta categoria,
sem saber porque faço ou falo coisas.
Em um cinema sujo e triste, as mulheres me cospem, o coração desiste
e deixo o orgulho para as moscas.
(...)
Um brinde então, a esse odor de quarto úmido,
a televisão que não sintoniza.
Um brinde ao Domingo, ao tédio, a esse colchão imundo,
onde casais feios treparam por dias.
Eu sou herói de ninguém e quero um quarto sem espelhos.
Um corpo sem nome pra abraçar com os joelhos.
Porque hoje sou o que sou, o leão covarde da boca do lixo
na estrada de tijolos mais suja e cheia de bichos.
Decorei poesias, li Kierkegaard, Nietzsche até o raiar do dia.
E só conheci mesmo na vida os demônios sujos que não conhecia.
(...)
Verdade Fernando, jamais conheci mesmo quem levasse porrada
e todos que conheci me chutaram mesmo caído à calçada.
Holden estou aqui, de esperanças enterradas.
Atravesso, atravesso a estrada e nunca acontece nada... nad
a.

quarta-feira, junho 29, 2011

Mas você lembra?

Lembra das manhãs em que despertávamos sorrindo, rejeitando gostos e cheiros e se entregando a beijos e sexo recém-amanhecer? Lembra dos gestos, dos últimos olhares, das despedidas, das chegadas? Lembra do cheiro que minha pele tinha quando tocava a sua? Lembra da cor do meu sorriso quando via o seu?
Mas você não se lembra? Pode confessar, não vou brigar.
Você não se lembra de nada. Pergunto-me qual foi a última vez que pensou em mim. Não pergunto a você, pois temo a resposta. Creio que tenha me apagado de uma vez das suas lembranças, das suas memórias, tão cheias, feridas, tão machucadas, eu diria.
Lembra por que me amou um dia?
Lembra do que há em mim que te chamou a atenção?
Lembra, ao menos uma vez, uma última vez, do gosto do meu beijo quando beijava o teu beijo.
Hoje, sou apenas uma sombra. Refaça-me, pois hoje sou apenas um, fantasma, que quer habitar suas memórias...

quinta-feira, junho 16, 2011

Bandeira a meio mastro


É sempre assim, às vezes eu busco botar um bocado de felicidade em mim. Escuto uma música, leio um livro, vejo um filme; mas sempre me parece que há algo aqui dentro que frustra esse meu plano e sempre me faz lembrar de que tristeza acaba sendo regra e é assim que as coisas que eu escrevo aqui acabam brotando, fruto de uma inspiração que eu não queria ter. E com ele vem mais um conjunto de sentimentos.

Muita coisa na minha vida já rareou, e eu escrevo, pois é alguma coisa me resta.

Os dias que vão passando não me deixam saudades, saudades eu tenho da época em que nem sabia o que significava a palavra saudade, e eu só tinha que seguir em frente, somente.

Sentimento de inadequação psico-social, sem explicação. Daí todos me dizem obras puras de eufenismos, para coisas que eu já sei sobre a realidade. Chegam de peitos estufados e cheios de si, nessas madrugadas que nos deixam em carne viva!

Daí em diante, recolhido, quieto e ensimesmado. Mas há de convir, nunca me expus tanto, você sequer para me impedir. Com esse alvoroço que andam as coisas, mal engoli no almoço e nem sinto o gosto algum.

Eu te aconselho: Nem queria saber, nem queira saber.

O que me mantém vivo, também me mata e me machuca. É a dor. Tem que doer na carne a ferida aberta e exposta. Depois, no final das contas, tudo vira carne de abutre.

quinta-feira, junho 02, 2011

Dazed and Confused*

É este o nosso o lugar.

“Mas eu não quero me encontrar com gente louca”, observou Alice.
” Você não pode evitar isso”, replicou o gato.
“Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco, você é louca”.
“Como você sabe que eu sou louca?” indagou Alice.
“Deve ser”, disse o gato, “Ou não estaria aqui”.
Lewis Carroll


Estamos perdidos na floresta.

Muito juizo… Sempre, sempre eu digo… Mas eu não consigo ter…

Pois é Alice… Pois é…

*Título e post baseados na ótima música do Led Zeppelin.

quinta-feira, maio 26, 2011

É vício não querer viver



O maior vício da humanidade em todos os tempos é o de procurar pela ferida já quase cicatrizada, sangrar a cicatriz, deixar sangrar de verdade. Depois que sangra, reclama. Mas não é masoquismo ou mesmo culto à dor, é apenas a necessidade irremediável de testar se ainda há vida ali, verificar a fragilidade da alma e de todo nosso interior. É uma maneira simples de provar que há sentimento. É um paradoxo sádico: “vou me matar, se eu morrer é porque estou vivo”.



Ah, como eu gosto!

quinta-feira, maio 12, 2011

Dentre idas e vindas, promessas e nostalgia*

*Ou mesmo o esboço de uma teoria falida


...e são aquelas promessas feitas a dois é que, muitas vezes, aquele que propõe é quem, de fato, acredita na sua realização ou pelo menos quer acreditar. À outra parte cabe ser conivente, assentindo sem pensar direito na responsabilidade da aprovação, é uma postura até confortável por vezes. E tudo está bem até que se coloca no caminho o momento em que é preciso decidir se vai mesmo se fazer de fato aquilo ou não. A partir daí, desencadeiam-se uma serie de acontecimentos, dos quais se descobre que as visões são diferentes, que os momentos são incompatíveis, que as expectativas são outras. Enfrenta-se a dor e o ônus de se desfazer os castelos de areia montados ingenuamente, enquanto se sente os grãos de um sonho que nunca vai se concretizar escorrendo de forma cruel pelas mãos, com algum excesso de peso de culpa. As palavras ditas não valem registro, as escritas já foram apagadas. E aquele que propôs tudo descobre que está sozinho, e que talvez sempre tenha estado, enquanto a outra parte, que um dia aparentou estar ali, já encaminha os planos de um futuro qualquer distante dali, bem distante.


É assim que termina, com um “esquece que eu existo” ou “você vai viver melhor sem mim”.


É essa a teoria, mas sempre há alguém para colocá-la em prática.



Ps.: Esse post é dedicado á uma situação vivida por uma pessoa próxima, e creio que ilustra também a de mais pessoas.

quarta-feira, abril 27, 2011

Entrevista com vampiro

Eu sempre gostei de entrevistas, gosto de ler as pessoas que eu admiro, gosto de saber o que elas dizem, pensam e fazem com as coisas da vida, e com as coisas mais banais; algo do tipo que dá na gente aquela vontade de acordar achando que não é mais você mesmo. A minha vontade era ser entrevistado pelo Antônio Abujamra, que é conhecido pela irreverência de suas encenações e por seu humor crítico em relação a totens e tabus sociais e tem um programa de entrevistas muito sui generis chamado Provocações.

Contudo, como a chance de eu ser entrevistado por ele é um pouco pequena, eu mesmo me entrevistei através de umas perguntas bem humanas e simples, o resultado é esse:

Nas últimas 24 horas...


Você chorou? Tive vontade.
Ajudou alguém? Acredito que sim.
Disse 'eu te amo'? Não
Brigou com alguém? Não
Falou ao telefone/com quem: Sim, ex-colegas de faculdade e tentei os clientes.
Abraçou alguém: Sim
Se apaixonou: Todos os dias.
Um lugar: Escandinávia
Um desejo: Ser feliz e mais normal.
Um ídolo: Qualquer um que tenha sido verdadeiramente sincero na sua vida.
Um arrependimento: Algumas decisões tomadas, digo, várias. Algumas coisas feitas e outras não feitas.
Beijou: Não.
É ciumento: Tenho sim os meus ciúmes...
Um sentimento: Perplexidade.
Um medo: Quando o meu livro dos dias terminar sem ser terminado.
Um dia: Quando eu vim ao mundo.
Uma paixão: Conhecimento.
Um vício: Cigarros e músicas.
Um mês: O que vem depois de dezembro e antes de janeiro.
Um amigo: Meu irmão.
Um bom ouvinte: A parede.
Uma amizade que venceu o tempo: A de algumas pessoas da época de faculdade.
Uma estação: Inverno, definitivamente.
Um sonho: Rodar o mundo, chutar uma macumba e ter uma banda de rock!
Razões para sorrir: O amanhã.
Eu devia ter mais: Paciência.
Eu devia ter menos: Racionalidade.
Eu tenho: Camisas das minhas bandas favoritas.
Eu preciso: De alimento e outros sentimentos.
Me dói: O peito.
Eu acho: Que esse mundo está perdido, a gente precisa começar tudo de novo e esse povo é tolo demais.
Eu sinto: 100 anos de Solidão.
Posso confiar: Na minha família e nas minhas verdades.
Acredita no amor? Pode ter certeza que ele existe.
E na fidelidade? Depende das partes.
Quer casar? No momento não, obrigado.
Quer ter filhos? Alguém precisa continuar essa saga-sagaz.
Uma pessoa que eternizará no seu coração: Todos os meus heróis, e todas as pessoas que participaram dos meus momentos em que não fui somente coadjuvante no mundo. Aos companheiros das batalhas perdidas também... E as que ficaram pelo caminho.
Uma boa lembrança: De quando a gente era feliz e não sabia.
Um modo de ser: Agradável demasiadamente.
Um time: Cruzeiro.
As que se pode confiar: Essencialmente a família.
Um fim: Uma ópera parabucólica!

quarta-feira, abril 06, 2011

Metamorfoseando


Tem horas que eu gostaria de saber o momento exato, as palavras exatas, o local adequado para a vírgula e afins, a hora certa de frear. Mas, é que sou acostumado às intensidades da vida, gosto muito de pouca coisa, sempre me vejo apegado a pisar fundo mesmo; sempre como se a oportunidade fosse única, independente do momento ser oportuno ou não. Assim, acabo assumindo riscos que não deveria e faço escolhas que poderiam ser perfeitamente evitadas se eu tivesse ao menos um pouco de prudência. (Reitero que estou em fase de transição temporal do verbo empregado neste texto*). O mais impressionante de tudo é que é tudo em velocidade máxima, o que, a priori não seria danoso se o mundo rodasse na mesma intensidade e outras pessoas me acompanhassem nisso. Todavia, não é o que ocorre, por obvio. Daí surge àquela sensação de descompasso que custa a sair de mim e o resultado muitas vezes tende ao nada. Daí em diante resta (ou restava?*) muito silêncio, angústia e sei lá mais o quê... ...E por não dar dois passos para trás antes de um para frente, como fazem as pessoas sensatas.


E eu juro que queria ter um freio eficaz, e acho que ele está se desenhando.


Que o diga Gregor Samsa.


Recomendo: A Metamorfose (Die Verwandlung, em alemão), é um conto escrito por Franz Kafka, publicado pela primeira vez em 1915.

quinta-feira, março 31, 2011

E eu, que fiz pouco caso de um gênio

"(...)Às vezes a gente fica assim, mesmo sem motivo, e quer andar por aí. Às vezes a gente não sabe o que quer, mas sabe como é, e quer muito mesmo assim. E é engraçado ver que tudo sempre esteve aqui mas a gente achava que estava tudo errado.(...) "


"Sempre apegado aos detalhes, e são eles que nos fazem sofrer, Rodrigues..."




sábado, março 19, 2011

Passado a limpo, lindo e passado


Esses dias têm sido estranhos. Tenho dormido mais tarde e acordado sem sono. Não tenho vontade de sair de casa, muito menos de ver pessoas. Você provavelmente dirá que isso é o meu normal, que nada há de estranho nisso. E eu deveria concordar, mas não posso. Porque sei que estou me sentindo diferente, porque sei que esse igual não é o mesmo igual do que naquela época... daquele tempo que você me conheceu.

Ao mesmo tempo, nada mudou. O frio que quase tem feito - e muito mal feito - e essa chuva que insiste em cair ainda me trazem conforto, ou algo que o valha. E toda vez que escuto o Morphine com todos aqueles metais e um baixo bem grave, me arrepio todo. Minha raiva do espelho continua, minha mania de contar estrelas no céu à noite também, assim como várias outras manias. Olhando assim, o tempo parece não ter passado, poderia até dizer que continuo nos meus 18 anos; neste ponto. (ponto)

Um monte de livros que eu sequer passei da décima página estão jogados no chão. Não sei, talvez essa busca em escritos por algo que me dê sentido esteja me atormentando demais; mais do que realmente deveria, se é que deveria mesmo, enfim, eu realmente não sei. Quero respostas imediatas, fim de angústias e incertezas. Eu sempre fui assim, não é? Por mais que você tenha tentado me ensinar que precisamos refletir mais sobre nós mesmos, acho que eu nunca tive coragem de tentar. Talvez eu tenha muito medo de mim, muito medo de me conhecer de verdade.

Apesar disso tudo, há algo de novo aqui. Porque minha vida está diferente, eu sei. E ainda que seja estranho, não é ruim. Você não deve ter reparado, até por estar tão distante agora.
Ps: Essa foto faz parte do encarte do disco Legião Urbana II, e ela está ilustrando este post porque sempre fez parte do meu imaginário, desde os tempos de criança, quando olhava o encarte do LP e via essa foto, sentia algo diferente, não sei explicar o que sentia na verdade, um misto de curiosidade com admiração. No meu ver, me parece um casal bem apaixonado, após uma longa noite de curtição, no fim dos anos 80 talvez, que teve a idéia de ver o dia amanhacer na praia, ao som das ondas com os primeiros raios de sol, tão bonito e tranquilo ao som do mar. Apaixonados. Com certeza. Simples, bonita e elegante. Assim como o Legião Urbana e esse disco supracitado.

quinta-feira, março 10, 2011

Bem dentro de mim, onde a dor não encontra afago

A cada hora que se passa tem se tornado cada vez mais difícil a respiração e a convivência. Posso acreditar que sou um dos que lutam ou que estão ao lado da minoria, Eu poderia muito bem ter nascido como os outros e como a maioria, mas acabaram me escolhendo para fazer parte de um lado que eu não quero estar, eu não quero estar de verdade.

Quero ver cores, quero ver sorrisos, talvez apenas um único sorriso; sincero como sempre o foi, que sempre me dava um tom perene e infinito... De verdade, a gente sabe que é de verdade mesmo.

Eu não tenho visto nada disso há muito tempo, eu quero uma vida de verdade e quero ser como todo mundo é. Na verdade, ninguém sabe o quão doloroso é viver assim, o tão doloroso é ter que envolver tanta gente assim e ter que sentir e fazer sentir tanta dor.

Eu não quero mais sentir dor. A dor física nada me dói quanto a dor de algo que eu não sei explicar, mas tão somente sentir e sofrer.

Nesse caminho, acabei ferindo muita gente que só queria o meu bem. E eu juro por tudo que poderia gritar ao mundo implorando por aceitação, pois dele eu fui cuspido, com muito espinho acabou ferindo os meus bens, que só após TER que sofrer, vi que eram e ainda o são tão valiosos e sagrados para mim.

Eu tive a prova viva disso, eu vivi a experiência disso.

Mas, ainda não achei resposta do por que da vida em me preterir o caminho da dor, tão ligado ao aprendizado?

O meu sofrimento já o é bastante para me penitenciar, precisei me afastar do que gosto para poder achar, sem machucar ainda mais além de mim.

Onde tudo isso vai parar?

Eu quero o verbo e quero que venha forte e estrondoso e que realmente isso tudo PARE!

terça-feira, março 01, 2011

Pensamentos e reflexões de Geovanne Casanova


Tenho realmente pensando em coisas com o objetivo de não me deixarem lembrar das noites em que eu fiz e refiz planos para trocar minha vida por outra vida. Restos de comida, copos e cinzas de cigarros nos tapetes de festas que nunca estive e sequer ninguém me viu...

Nada mais é do que uma teoria de sobre estar só. Ora, pensemos, se o inverso de ser feliz é a certeza de saber que nem sempre temos as respostas que queremos ouvir?

E ela diz:

-Então me liga!

Mas na verdade sequer lembra o meu nome

Respondi:

-Ligo sim... É claro.

Acabo sempre ligando e dizendo:

- Sabe, hoje talvez passe aquele filme que eu gosto tanto...

É verdade, eu poderia muito bem ser gentil e perguntar mais um monte de coisas fúteis, mas a verdade é que eu queria mesmo era ter um copo de água suja pra beber e parar de fingir!

Será que o vazio é bem maior agora? Agora sim sabemos ter feito o melhor e deixamos tudo mais pra depois, pra depois.

Sabe? As vezes eu mesmo me pego pensando assim:

-Deixa pra lá.

Cansa menos, e pra você?
Obs: Créditos da foto de uma cena legal do filme "Alta Fidelidade"; o indico também.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

A incansável briga por alimento de Rodolfo Valentino





E a gente passa a vida inteira tentando nos proteger de nós mesmos. Ficar tentando ter e/ou buscar um equilíbrio que a gente sabe que não existe. Não existe ninguém equilibrado não.

Estudamos muito, trabalhamos mais ainda, consumimos demais, falamos muito, crescemos, aprendemos; compramos casas, carros, viagens, planejamos diversões... E tudo isso sabe pra quê? Para acalmar nossos demônios.

Deixá-los tranqüilos dentro de nós, dando a eles o alimento necessário.

Só que no fundo todo mundo sabe que somos aquelas mesmas criancinhas cruéis, que davam apelidos horríveis aos coleguinhas, que faziam brincadeiras unilateralmente engraçadas com pessoas escolhidas a esmo por pouco tempo de convívio.

Tudo isso nos primeiros anos de convívio social...

É a natureza, nascemos assim. Com muito prazer em afirmar todas as coisas que nos dizem para não sermos.

A gente gosta mesmo é de bancar o bandido, de fazer o errado, de quebrar as coisas... Mas...Vivemos nos educando para não ser/fazer isso.

A cada vez que suportamos pessoas que detestamos e que resolvemos brigas que queríamos deixar para trás, que sorrimos com gosto de fel na boca...

A gente gosta mesmo é de dizer que somos CIVILIZADOS, não é mesmo? Mas tem dia que dá vontade de sair correndo, gritando e tacando fogo em tudo.

E num desses devaneios que penso o quão idiota é o ser humano. Já já suas criancinhas internas estarão sedentas e com fome, dê-lhes algo! Alimente-os! Reeduque-se! Controle-se!



"(...)Pra cidade cinza eu travo meus dentes.
Com o olhar vermelho cuspo aguardente.
Me passam rasteiras, me fazem chorar
de ódio, de medo de não suportar.
Meu vício é ser vivo.
Meu sangue é valente.
Guerreiro nas ruas, sou sobrevivente.
Eu grito e a fumaça me faz sufocar. "

sábado, janeiro 29, 2011

Singelamente, como uma Flor de Lótus



É que às vezes tudo parece bem perdido e distante dos nossos propósitos. Aliás, pior ainda fica quando a gente não sabe dos nossos propósitos e sempre pensamos nos alheios. Não acho legal não.

Sempre me pergunto sobre o sentido das coisas e nunca encontrei resposta para nada, e vou vivendo a cada dia tentando buscar isso, mas nunca acho resposta; o que eu sempre acho é mais um caminho a percorrer em que, para mim, sempre me parece um pântano cheio de armadilhas. É sempre assim.

Escolhas. O que dizer sobre elas? Quando você se aproxima dos 30 anos, começa a pensar em como estará com 40. Fóda. Toda meninice foi deixada para trás, as brincadeiras de antes agora tem uma conseqüência factível. Toda a inocência usada ou desperdiçada agora lhe reflete.

Vi um filme. Um bom filme. E note que as escolhas que fazemos quando achamos que são as mais banais, são as que mais importância terão na nossa vida, ou no que resta de tempo na Terra.

Uma verdade é que tudo isso cansa a mente, cansa o corpo e corrói a alma, ou seja, a gente vai ficando mais frio, mais gelado e não tende a esperar muita coisa legal não. O mundo que está fora do nosso campo magnético é fora do controle.

As pessoas são fora do controle.

Não sei com quem estou lidando, por muitas vezes tenho vontade de nunca tê-las conhecido, por outras vezes, e muitas delas, penso que tem um monte de gente que eu ainda preciso conhecer para que eu me sinta bem e menos anormal.

Quem pensa isso? Não sei.

É legal fazer um retrospecto dos seus Melhores Momentos, mas, alguém já fez dos Piores Momentos? Algo do tipo: Minha Infindável Lista de Fracassos?

É uma coisa que te acompanha; que te cobra; que te consome e que lhe faz tomar decisões covardes em face de você mesmo, dos outros e de algo mais.

Definitivamente, não quero viver o resto da minha vida assim. Não mesmo.

É muito complicado achar o “seu lugar”, muito mesmo. Quiçá achar “um lugar”.

“E que meus dias fossem colados, um a um”.

Definitivamente? Talvez.


Flor de Lótus: O significado original deste simbolismo pode ser visto pela seguinte semelhança: Tal com a Flor de Lótus cresce da escuridão do lodo para a superfície da água, abrindo suas flores somente após ter se erguido além as superfícies, ficando imaculada de ambos, terra e água que a nutriram.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Conversas Noturnas - Parte VIII


Ele vem.
Senta bem ao meu lado.
- O que você faz aqui, cara?
- Pois é... Gosto de vir por aqui, pensar e às vezes pensar que nem mesmo estou aqui de verdade.
- Legal!
- É.
- Deixa eu te pagar um uísque.
- Não bebo uísque, cara! Desculpa!
- Mas e esse copo aí?
- Isso era um Jack.
- Mas Jack é uma bebida, é um uísque...
- Não. Jack não é uma bebida. É algo além...
- Você é louco.
- Devo ser.
- Uma cerveja então!
- Uma cerveja ok.
- Qualquer uma?
- Não, aquela lá da garrafa verde.
- Hahaha, cara você não muda…
- Muito pelo contrário, agora sim eu mudei, não ta me vendo?
- Mas largou tudo? Trabalho? O que deu em ti?
- Cara, tudo isso ta em mim, não deu nada em mim, não tem como eu largar, saca?
Levanto.
Jukebox.
Overkill.
- Men At Work, cara?
- Pois é.
- Cara, “meu pai” deve escutar isso.
- Ele deve ser um cara legal...
- Mas conta, o que te trouxe para esses lados?
- Algumas coisas, aliás, muitas coisas. Gosto do mar, do cheiro do mar, até de algumas pessoas que circulam por aqui...
- Curte praia?
- Nem tanto. Mas o mar me acalma.
- Andava nervoso?
Sempre me perguntam isso.
- É difícil de explicar.
- Como assim?
- Às vezes a chaleira apita. E tem tanto ódio dentro de mim que tudo parece um tremendo engarrafamento em minha cabeça, com gente nervosa se xingando, impaciente, as buzinas e tudo mais… Me sinto dentro de um estádio de futebol, bem no centro do gramado, em que o público só que ver meu próximo “ato”.
- Cara, você já procurou “ajuda”?
- Já.
- E aí?
- Não adiantou.
- E o que você fez?
- Me conformei oras.
- E acabou ficando aqui…
- É como uma televisão. As vezes os programas repetem tanto, mas TANTO, que você simplesmente TEM que mudar de canal.
- Ou desligar.
- Ou jogar um martelo.
- Hahaha... Pois é.
- As vezes saio por aqui a noite sabe, pego uma bebida e ando pelo mar. Prefiro a noite. O sol me incomoda. E além de tudo é bem mais calmo. Dá para sentir e ouvir os sons.
Levanto.
Jukebox.
Shine on you crazy diamond.
- Que porra é essa?
- Gosto do riff. Me faz me sentir mais a vontade por aqui...
La bem ao fundo tem um russo que chega e faz um sinal dizendo que gostou da música.
Levanto o copo em resposta.
Rola um silêncio.
- É, o riff é bom mesmo…
- Eu disse.
- E de resto?
Conversa de elevador. E o camarada esperando mais e mais, quase babando por mais informações. Eu também sou meio assim.
- E o que pretende fazer agora?
- Continuar mudando.
- Não, eu digo da vida.
- Então, é isso.
- Mas e aí, depois que você mudar, o que vai querer então?
- Depois é depois. Como eu vou saber?
- Não sabe o que quer?
- Sei sim. Quero ficar bem.
- Sabe que pode me ligar quando quiser, né?
Não tenho o telefone dele. Nunca tive. Mas até que é um cara bom.
- Você lembra de como nos conhecemos?
- Não muito. – As vezes as memórias ficam confusas em minha mente e tenho uma preguiça enorme de desenterrar tudo aquilo. Então deixo como está.
- Eu também não me lembro.
- Deve fazer uns dez anos...
- Por aí.
- Já passam das 3h. Vou pegar uma saideira.
- Vai pra onde daqui?
- Provavelmente andar pela praia até chegar em casa.
- Não quer a caideira em outro lugar?
- Não, eu estou começando a pegar gosto por dormir em horários humanos.
- Vou colocar a última.The Jean Genie.
- Ah não, aí já é demais ha ha ha ha Chega pra mim.
Apertamos as mãos.
Outra sensação estranha.
Ele se levanta e sai.
Olho pra cerveja e aprecio lentamente enquanto o gelado fode mais um pouco com minha garganta.
Então ele volta como se estivesse esquecido de algo.
- Ah, só mais uma coisa.
- Fala.
- Me desculpa pela cicatriz.
- Que cica… Que???
- Essa mesmo...
- Vai querer mais alguma coisa?
E no instante em que me viro para o russo e volto a olhar para a mesa estou sozinho outra vez.
- Estou bem. Só acho que bebi demais e que estou um pouco cansado. Os uísques estão pagos. As duas cervejas meu amigo já pagou, não pagou?
- Que amigo? Você bebeu sozinho a noite inteira…
(…)
“The Jean Genie lives on his back
The Jean Genie loves chimney stacks
He's outrageous, he screams and he bawls
Jean Genie let yourself go!”…
(…)
Paro por alguns segundos.
Meus pés formigam.
Pago tudo e saio meio apressado para a praia.
E foi a última vez que nos vimos.