quarta-feira, novembro 22, 2017

Se eu começar

Respirou fundo, abriu os olhos e se levantou do chão, de onde costumava a ficar por muito tempo, quiçá por noites e noites a finco. Não havia mais ninguém ali, e a chuva que caía do lado de fora era menos triste que as velas acesas por toda parte - o que isto lembra?, ainda que se fizesse luz em meio ao breu naquele instante. Caminhou com passos pesados até a porta, cada passo era uma vitória, ouvindo atento cada pequeno som que pudesse mudar seu destino (ele não acreditava nisso, mas agora tudo parecia tão surreal que talvez houvesse lógica no absurdo - Há?). Chovia forte agora, muito, e nada se via lá fora. Abriu a porta. Não havia mais o que o prendesse ali. Seus braços esticados como asas e uma corrida sem pensar e questionava qual seria o destino. Lágrimas escorriam dos olhos. A água gelada em seu corpo trouxe de volta o alívio que anos de angústia levaram com sua vontade de viver. Nada se via. Novamente. Só seu corpo parecia capaz de sentir. Abraçou a si mesmo com forças e deixou seu corpo escorregar para o chão. Ali mesmo dormiu, jogado a ratos e sujeira que sintetizavam sua existência. Talvez, em algum sentido, perene. Talvez não.