Dominar as palavras de modo que elas saiam de mim é algo que
ainda não aprendi. Por isso, acabo fazendo textos que dirão coisas além o que
vocês deveriam saber. Eu sei. Eu sei. É inútil esconder o que se sente, só que também
é inútil sentir se você não aparece. Irão me dizer que nunca dá para saber ao
certo o que é real e o que não é aqui, mas eu sei que vocês sabem. Vocês sempre
souberam. A dúvida é dos outros que não pode precisar se vivo isso tudo ou
mesmo se você é de verdade. E é isso que fascina. A eles, o benefício da
dúvida. A vocês, a certeza das frases. Meus textos são sobreviventes de um
desencanto possível. Heróis de uma conquista imaginada. Algozes de sentimentos
prováveis. Enquanto isso, o cigarro se apaga enquanto eu olho para você. E a
rua vai sentir minha ausência. Aí vamos botar uma música. Você vai se levantar.
Eu ficarei no sofá.
“Dança comigo?”
Você sabe, eu nunca aprendi a dançar. Acho que é por isso
que sonho com o dia em que o dançar vá deixar de ser assim.