Parece que me falta algo, o que me tornaria capaz de
perceber o que deve ser feito em cada ocasião. Hesitante, nunca sei se há ou
não um momento, então deixo para lá, penso que não é para mim e aceito a
condição de incapaz. Só depois, quando ponho a cabeça no travesseiro, penso em
"mil-e-uma-formas-de-fazer-o-que-devia", choramingando a falta de
sorte e fingindo ignorar o saber de que a culpa é minha por não conseguir
perceber os malditos sinais. Ou, pior até, conseguir perceber sim, mas não ter
coragem para acreditar, carregando o fardo de frustrações passadas como se elas
fizessem parte de um ciclo, como se jamais pudessem se encerrar. Medo, medo,
medo. Por que é tão difícil arriscar? O que há para ser perdido? E o que já não
foi perdido pelo não-agir? É preciso menos complicação e mais atitude - eu ouço
as paredes me repetindo isso o tempo todo, aos berros. Sim, é claro, está
certo, eu sei. Mas falta algo em mim, aquilo que não deixa tudo ir. E aí não
adianta trazer o cheiro para casa, especular sobre aquele gesto ou dizer
palavras tortas na hora em que não é mais adequado, porque já foi. As cortinas
fecharam e o gongo soou. Tal qual naquele cinema, quando estava no começo e
nada mudou. Porque eu não soube fazer diferente. Nunca sei. Só aprendi a
assistir, não a atuar, e é a vida que não é arte a única que sei viver.
Aplausos poucos, preguiçosos. Um cumprimento tímido. A noite se vai, a ocasião
também. Faltou você. Ou eu. Sigo me repetindo. Nas dúvidas sou destinado a
perder.
escrito solto achado na gaveta
Há 5 anos