Curioso. E me peguei aqui, em casa, olhando para a minha
potencial algoz. Aquela que poderia ter acabado com toda a história. Mas por
fim, não acabou. Devaneio. Algo errado dentro de mim pedia o contrário e eu
relutei. Relutei demais, e consegui vencer, fiz apenas um agrado que me marcou
até hoje. Muita gente fala que eu sou o cara que mais gosta de tatuagem, mas
ainda não tenho nenhuma. Mentira. Tenho as minhas, são três traços lascados na
pele, mais especificamente no antebraço. Doeu, castigou, feriu. O corpo sente,
a alma entende. E logo hoje me deparo com ela, que por muito tempo foi
escondida de mim, talvez por medo, talvez por precaução. Sábios. Mas estive
cara a cara com ela. Ela me olhava de um modo cheio de dúvidas, como se não
soubesse o que havia ocorrido, ou como se pedisse para ter ido mais longe. Por
Deus, não fui! Não dessa vez. Mas tive que encará-la, ela me olhava, e eu
olhava mais ainda para ela, parecia uma hipnose, não induzida, mas voluntária.
Ainda havia marca daquela época, sangue seco, sujo e negro. Sujo, impuro. Mas
estava lá, um pedaço de mim e daquela época que foi. Ficou. Hoje, agora, tudo,
tudo é passado. Amanhã é um novo dia. Tem que ser um novo dia. Assim esperamos,
eu e ela. Bem do meu lado, como uma ex-amante, como uma cúmplice, que nada pode
dizer além de me mostrar o que aconteceu naquela época. Ela fala por si, minha
pele fala por mim. Tenho tatuagens, nada ortodoxas, mas são minhas, e somente
minhas. Eu sei onde pisei e o que passei. Talvez ela saiba mais do que eu. Mas
que fique claro, quem manda SOU EU!
escrito solto achado na gaveta
Há 5 anos