Quantos tombos eu já tomei, acho que posso fazer uma lista com
os maiores. O pior de tudo é que a cada tombo novo, sempre parece ser o pior.
Daí quando você acha que tudo já passou, e que já passou por coisa pior o ou
mesmo já passou por tudo, acaba se vendo no mesmo buraco em que está acostumado
a estar. Parece que ele te suga e te destrói, destrói, destrói.
Como viver vem sendo sofrido ao longo dos anos, como eu posso
conseguir superar isso tudo e ainda ter que ter parcimônia para o que está por
vir? Quem me explica como é que eu vou ganhar? As leis deste lugar são puras
ilusões, sendo que a gente acaba não recebendo o que precisa e acaba não tendo
em troca o que emanamos ou mesmo o que pensamos emanar, na pior das hipóteses o
que pensamos emanar para as pessoas. Quem são essas pessoas e o que elas querem
de mim?
Eu posso ver todo mundo lutando a todo o momento, com
sangue nos olhos e eu simplesmente me desintegrando gradativamente, em alguns
períodos de forma assustadoramente rápida como uma pedra caindo do céu, ou
mesmo lentamente como um saco de plástico atirado do décimo primeiro andar de
um prédio e vai descendo lentamente até chegar ao caos da avenida, onde será
atropelado e levado pelos carros que por lá passam...
Eu só quero estar preparado para o meu momento, seja ele qual
for, o do meio, do início ou do fim. Será que eu já me acostumei com a dor? É
claro que não! Mas é claro que não. Não há como se acostumar com isso, dói.
Arranca carne do meu peito sem nenhuma dó e sem anestesia e muito menos sem
saber se eu estou preparado para sofrer tamanha invasão sangrenta.
Não me pergunte por onde caminhei nesse período, nem com quem
andei. Mas procure saber em o que me transformei e como lido com isso, dia a
dia, noite a noite, hora a hora, mês a mês, ano a ano...
Sei que já provei de vários sabores, mas o amargo é o que
insiste em ficar no meu paladar monodegustativo. Não tem parte boa nisto, não
tem parte agradável nisto. Há uma falsa sensação de que você tem o controle de
tudo, e parece que é isso que é todo o mal de tudo é simplesmente fazer com que
você acredite que possui o controle de tudo em você e ao seu redor, e quando
descobre que as coisas não funcionam desta forma, vem em formato de choque. Choque.
Choque. Como destrói. Como arde por dentro da gente.
Buscar por um novo horizonte, talvez bem distante de Belo
Horizonte. Daqui já provei de todas as bebidas de todos os bares, já comi em
todos os lugares que existem e provei de todos os sabores. Não gostei. Ou pelo
menos, não gosto. Não agora, não hoje, não nesta noite em que escrevo esses
pedaços de um doce coração.
Há tanto para falar, tanto para viver e muito pouco tempo de
existência terrena. Desesperador. Como se você tivesse apenas uma hora para
escrever o livro de toda a sua vida, e quando chega-se aos 59min58seg.; lhe
dizem: larguem as canetas, o tempo acabou!