No dia em que
parti seu coração, posso me lembrar de vê-la sair andando, e, parar mais a
frente, olhando com fúria e me dizer: “desta vez, você passou dos limites”.
Naquela hora, eu entendi que havia magoado a pessoa que menos merecia e da
forma mais cruel possível, mas quis acreditar que não era para sempre. E era.
Foi assim que os dias viraram anos, e a ausência virou rotina. Aos poucos, fui
desacostumando a sentir tudo, e colecionando vítimas da minha frieza a cada
relação terminada. Buscava por complemento e só encontrava ausência. Vazio. A
carne, assim, virou lata, e as paixões unilaterais não tiveram uma gota do meu
cuidado. Acreditava estar seguindo em frente, buscando em outros beijos o amor que apenas sentia nos
seus, só que andava em círculos – hoje eu sei. Terminei por espalhar sofrimento
de maneira irresponsável, magoando quem só queria me salvar e errando tantas
vezes quanto eu pudesse e não pudesse errar. Eu devia saber. Afinal, eu nunca
dou valor, você me dizia, talvez encantado por uma vida de excessos que não me
deixava sequer sentir de verdade. Errei. Colecionei histórias que não merecem
sequer uma página. Memórias construídas que não pulsam por um segundo sequer.
Nem tenho mais você, nem terei ninguém. Porque o dia em que parti seu coração,
lembro-me de pensar que era melhor doer e sangrar ali para não doer mais.
Bobagem! Naquele mesmo dia eu comecei a sangrar – e parecia ser impossível
cessar. Desculpa. Desculpem. Eu desaprendi a fazer o bem para quem pára por
aqui. Hora de ir.
escrito solto achado na gaveta
Há 5 anos
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