quinta-feira, outubro 26, 2017

Devorador de memórias

Nota-se que as últimas palavras foram as dela, escrever ainda era difícil. Sangrava um pouco a cada toque no teclado, cada letra no papel amassado, deixando um pedaço dele mesmo. O resultado, apesar de que para muitos parece belo, era doloroso. Depois disso tudo, a folha e o bloco de notas precisou ficar muito tempo em branco, uma história esquecida de passados nem tão distantes. Até que ela apareceu por aqui, entre um presente escondido e um texto relido, como se quisesse garantir que tudo estava em seu lugar. Mas ele já não ouvia mais a banda tocar. O cheiro dela havia sumido. Voz inaudível. A única coisa que restava era uma prosa de despedida, dessas mesmo que a gente escreve para dizer que já não se importa. Feita sob medida para quem escolheu virar sombra de sentimentos que eclodiam.  Você então me interrompeu:  “- Faça um favor a si mesmo...”

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