sábado, fevereiro 24, 2007

Reparando o irreparável

Era manhã de terça-feira quando ele tomou uma decisão que mudaria toda a sua vida: “de hoje em diante serei uma pessoa mais egoísta”. E então ele contou para todos e espalhou a notícia, pensando que assim poderia resolver todos os seus problemas.

Mas é claro que todos ficaram boquiabertos com a decisão do jovem garoto. Logo ele que sempre foi cordial, pessoa em que poderia contar a qualquer momento, deixando de lado esse comportamento e passou a pensar apenas em si mesmo.

Tarde demais para voltar na decisão, ele estava de fato decidido nessa idéia. Para começar, foi acabando com todas as relações mantidas por “conveniência”. Foi deixando claro que não era mais um amigo e que certas pessoas não mais poderiam contar com ele. Teria agora meros colegas, não mais do que isso.

Usou de um tom áspero com alguns, pedindo para que sumissem de sua vida, pois não faziam a menor diferença e sua convivência já o irritava.

Mas o melhor de tudo foi aquele em que ele guardou para as pessoas que haviam sido egoístas com ele. Passou a usar de um meio bastante eficiente para se atingir alguém: Tornou-se um cara falso, capaz de fingir grande empatia por quem mais odiava. E na verdade, ele se divertia muito dando conselhos inúteis e aparentando preocupação com os problemas alheios.

Seguiu vivendo assim por longo tempo, vivia feliz dessa maneira, desprezando o mundo e por mais que tivesse perdido algumas pessoas, a sensação de conquista era mais latente. E ele não se importava.

Até que um dia, em uma conversa casual com uma garota, daquelas que só fazem sentido após você encerrá-las e ir para casa, e se perder no abismo que é pensar, ficou com uma frase latente na cabeça “as coisas não voltam atrás”. O que aquilo significava afinal?

Significava que desde o dia em que ele resolveu viver só para si, fora deixado muito de si mesmo ao longo do caminho...Sua identidade estava deformada, sua personalidade não era algo natural, mas fruto de uma (des)construção, nefasta (des)construção. E percebe que não mais seria o que antes fora. Nunca mais. Aquilo tudo havia deixado cicatrizes.

Daí ele percebe que não há muito mais o que fazer. Não vislumbra alguma mudança que lhe fará sentir melhor.

E aprendeu tarde demais o quanto precisava daqueles que considerava inferiores.

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