sexta-feira, agosto 20, 2010

Conto de quem regressa


E do nada a cidade se tornou muito fria, agora sim se parecia com a sua favorita Londres antiga, de meados de 1900, talvez até mesmo Escócia. De fato, ele gosta do Reino Unido. Acabou por deixá-lo gélido por completo também, junto com isso aquele sentimento de ausência, e tinha uma quase certeza de que começar o dia seria a coisa mais difícil dos últimos anos. Todo aquele silêncio ao seu lado, todos os passos e sons viravam ecos pelas casa.

O quarto? Esse ainda estava escuro. Somente com aquela escuridão seria capaz de preencher o tamanho do vazio que se instalou naquela armação de concreto. Ele sabia que era necessário preparar o café da manhã e que poderia até mesmo comer na cozinha, assim seria uma saída para não ter que deparar com mais uma cadeira vazia à sua frente, nem mesmo duas toalhas de mesa, e seguindo com as duas escovas de dente, o par de toalhas e mais tudo que estava em formato dúbio.

Daí em diante ele começou a imaginar que ele se dividia em duas partes: uma, insistente e querendo a volta dela. Enquanto a outra, com mais racionalidade, desejava nunca na vida ter tê-la visto, ou se já tivesse visto que nunca tenha a tido aqui. Mas com você foi diferente, vida que segue como deve ser. Ele descobriu que precisava mesmo acordar, começando tudo bem devagar, voltando para ele mesmo.

Ele acabara de voltar a ser o mesmo de sempre. Num momento de fúria, parecia que aquela sua carótida pulsava e que mais cedo ou mais tarde uma de suas artérias fumadas iria explodir. Tudo isso em função de como havia ajudado a construir essa situação e de como não ajudou a resolver. A culpa vai necrosando e por mais que ainda tenha alguma ilusão, esta já está se gangrenando. Vai curar? Vou eu sobreviver? - Pensou ele.

Daí começou a sentir que o verão não chegará e que se estacionará no outono por um bom tempo, talvez para sempre.

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